25/04/2012

A Panela de barro


A arte do barro ou louceiros, é uma atividade milenar, existente há mais de três mil anos antes de Cristo; no Brasil é uma prática muito representativa para a cultura popular. É uma herança deixada pelos índios. As índias faziam brinquedos de barro para os filhos e objetos domésticos, como: Gamelas, tijelas, panelas, alguidares, potes, etc.; e modelavam de acordo com sua criatividade ou necessidade e pintavam com tintas fortes e coloridas inspiradas na natureza. No sertão nordestino, era comum no início do século XIX, muitas casas possuírem utensílios de barro. Em Várzea da Caatinga, no início da sua formação como cidade; todas as casas possuíam panelas, potes, quartinhas e alguidares de barro. As pessoas que trabalhavam com esses utensílios de barro; eram chamadas de "louceiros". Nas feiras livres de Patú, Umarizal, Olho D'Água, etc.; eram encontradas as mais diversas peças em barro. E a procura por essas peças era grande. Eram utensílios duradouros, desde que manuseados com zelo e cuidado. As panelas de barro, cozinhavam as mais deliciosas comidas típicas do povo sertanejo. Os potes armazenavam a água de beber e do consumo diário. As quartinhas armazenavam a água a ser transportada à mesa, ou ao quarto. Os louceiros fizeram parte da história do nordeste brasileiro.

O processo de produção das panelas de barro emprega tradicionalmente matérias-primas provenientes do meio natural: a argila é extraída de jazida, denominada barreiro. Dois dos principais instrumentos do ofício – a cuia e a vassourinha de muxinga – são feitos a partir de espécies vegetais .
A atividade, eminentemente feminina, é tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário.

Apesar das transformações urbanas ocorridas ao longo do tempo, a localidade de Goiabeiras, conhecida como Goiabeiras Velha, Espírito Santo, permanece como um reduto de ocupação antiga, os quintais repartidos com as famílias de filhos e netos, onde saber fazer estas panelas de barro é o principal elemento formador da identidade cultural daquele grupo social.

Esta tradição se mantém viva graças às paneleiras de Goiabeiras, que há várias gerações, continuam fabricando artesanalmente as autênticas panelas de barro, que estão associadas à genuína culinária espírito santense, principalmente no preparo da moqueca e da torta capixaba.



Para fazer as panelas, as artesãs retiram a argila do Vale do Mulembá, situado no bairro Joana D’arc, na Ilha de Vitória. Levado para o Galpão das Paneleiras em Goiabeiras, o barro passa por um processo de limpeza no qual são retirados os grãos de areia maiores e a matéria orgânica visível, para que seja amassado, manualmente, em seguida. É o momento que inicia-se o processo de confecção da panela, através de uma técnica de modelagem aplicada a partir de uma bola de barro.



O acabamento da panela é feito com seixos rolados (pedras de rio), casca de coco, facas e estiletes. A peça totalmente modelada é colocada ao ar livre para secar e depois de seca, é alisada com um seixo rolado para retirar os grãos de areia mais grossos. A partir daí, as paneleiras reúnem sua produção e queimam suas panelas. No final da queima, as peças, ainda quentes, recebem um tratamento de superfície com tanino (tinta retirada da casca das árvores do mangue), dando a coloração final e específica às peças.




Certificado de procedencia

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) deferiu, a Indicação Geográfica (IG) para a Associação das Paneleiras de Goiabeiras (APG). Esta é a segunda vez que a panela de barro produzida em Vitória recebe o IG para artesanato. O reconhecimento é na categoria Indicação de Procedência (IP).
A certificação protege os produtos de eventuais falsificações, garantindo sua procedência e aumentando sua competitividade. De acordo com o INPI, com o registro das panelas de Goiabeiras, sobe para 11 o número de produtos brasileiros com procedência certificada através da Indicação Geográfica.

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